BIS 17 : Um Brasil desigual, cada vez mais desigual


A desigualdade, sobretudo étnica, marca a história brasileira desde o início. Nos “Brasios” Negreiros, os negros, amontoados nos porões, foram esmagados para sustentar uma ordem branca, escravocrata, que se valeu de setores médios para ir mais alto, apoiando-se na cabeça dos que estavam debaixo. A economia, ao mesmo tempo extrativista e de monocultura canavieira, também explorou o trabalho com o cacau. Explorou, explorou de novo e continua explorando...
A desigualdade, oriunda desse modelo, nunca mais foi superada, estando muito presente na pirâmide social. Negros frequentam restaurantes da elite branca somente como serviçais. Amontoam-se em ônibus na hora do rush — uma possível reminiscência do tráfico negreiro, no tráfego urbano — enquanto, em carros, cada vez mais brancos, a elite “sofre” no engarrafamento, com ar condicionado e música ambiente. Aos setores médios, que se creem altos, é permitida a faculdade privada. Sempre com ensino de péssima qualidade, nenhuma pesquisa científica e vagas ociosas, dado o alto valor cobrado. A universidade pública ainda mantém a qualidade, porém está proibida, por questões conjunturais e históricas, aos descendentes da escravidão. A política de cotas, como uma gota no oceano, se esforçava para alterar esse estado de coisas.
Um dia, a sede da democracia tornou-se o domínio de uma única família (branca). Dessa fortaleza passaram a partir ordens — e os meios — para a transformação da floresta em cinzas, alimentando a sanha neoliberal. Sob o império do capitalismo financeiro, onde o próprio capital se converte em mercadoria, uma nova política de redistribuição de renda começou a ter lugar. A leis trabalhistas voltaram a instituir a chibata, ao inviabilizar aposentadorias dos setores de baixo. A polícia se tornou cada vez mais violenta e as mortes de negros pobres aumentaram. Cartunistas e artistas que ousaram questionar a política de extermínio da pobreza tiveram suas obras destruídas publicamente por parlamentares. Pobres e negros favelados que ousaram se divertir sábado à noite foram pisoteados e espancados até a morte por policiais, enquanto o governador, branco, fingiu que não tinha nada com isso.
A construção de uma sociedade melhor passa, inevitavelmente, por mandar para o ralo o atual governo fascista, junto com os privilégios brancos. A eliminação de um problema não representa, necessariamente, sua solução. A construção de uma nova ordem social, menos desigual, pede um caminho ainda não percorrido, e nem encontrado nos últimos séculos. Cabe às gerações atuais, sua construção, para que sempre exista a esperança de um país pleno e diverso, multiétnico e multicultural, iluminado pela flor da felicidade e da alegria.
André Porto Ancona Lopez, dez. 2019